O Laboratório
LADIS
Laboratório de Análises e Desenvolvimento de Indicadores para a Sustentabilidade
Divisão de Impactos, Adaptação e Vulnerabilidades - DIIAV
Coordenação-Geral de Ciências da Terra - COGCT
INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS ESPACIAIS - INPE
Profile - Sergio Mantovani Paiva Pulice

Sérgio Mantovani Paiva Pulice
Earth System Governance ; Energy Transition; Climate Change Networks
Doutorando no Centro de Ciência do Sistema Terrestre - INPE - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, com ênfase em Sistemas Sociais e Ambientais: análise, síntese e modelagem. Mestre em Ciência Ambiental pela Universidade de São Paulo Instituto de Energia e Ambiente com ênfase em Energia e Desenvolvimento, Bacharel em Gestão Ambiental pela Universidade de São Paulo com ênfase em Economia Ecológica e Gestão de Recursos Hídricos. Membro do Laboratório de Análise e Desenvolvimento de Indicadores para a Sustentabilidade (LADIS/INPE - https://www.ladis-inpe.com/) e dos grupos de pesquisa Social-Environmental Extremes Lab (UNSEEL), PLANGEA/USP - Planejamento e Gestão Ambiental e Grupo de pesquisa ANPPEA - Articulação Nacional de Políticas Públicas de Educação Ambiental. Área de atuação: Transição para sustentabilidade, Transição/Transformação energética, Mudança Política, Ciência de Redes. Temas de atuação: Energia, Descarbonização, Política Climática, Recursos Hídricos e Redes.
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Frequently Asked Questions
do meu doutorado
“POLÍTICA DA TRANSIÇÃO PARA SUSTENTABILIDADE E A LEGITIMAÇÃO TECNOLÓGICA DA ENERGIA EÓLICA NO BRASIL”
(defesa dia 9/4 às 9h)
https://youtube.com/live/wc-_EKboo2E
Olás!
Durante meu tempo de doutorado, inúmeras perguntas foram feitas e eu falhei miseravelmente em respondê-las de forma não acadêmica. O vício do cientificismo é muito difícil de largar. Por isso decidi reunir as perguntas mais frequentes nessa página, para que eu, calmamente, desenvolvesse boas respostas não acadêmicas.
Me propus a respondê-las como se estivesse almoçando num restaurante, ou tomando uma cerveja num boteco qualquer. Falar de ciência, transição e sustentabilidade não deve ser complicado. A ciência está na vida de todos de alguma forma, basta conseguirmos nos conectar de forma simples e genuína.

1. Mas o que você faz mesmo?
R: Doutorado. Doutorado é como se fosse uma faculdade. Só que num nível mais difícil. Faz parte dos passos para se tornar um cientista. Primeiro você faz graduação, depois o mestrado, depois o doutorado. A partir daí você pode procurar empregos como cientista ou professor.
2. E é doutorado em que mesmo?
R: Ciência do sistema terrestre. Eu sei, um nome pomposo. É um tipo de ramo da ciência ambiental. Tipo assim, não tem dentro do Direito alguns ramos (civil, ambiental, penal, etc)? Quase isso para área ambiental. A ciência do sistema terrestre é uma forma de estudar as relações das coisas na terra, partindo do princípio que essas relações são dinâmicas, cheia de vai e volta, dúvidas ou incertezas, e às vezes pode melhorar ou piorar. Dentro desse jeito de estudar a área ambiental, eu escolhi estudar as relações das pessoas com tecnologias vistas como “sustentáveis”, que contribuem para diminuir o aquecimento global.


3. O que você pesquisa?
R: Eu pesquiso a relação das pessoas com tecnologias “sustentáveis” e como que as pessoas, através dos discursos que fazem nos jornais, apoiam essas tecnologias. Por exemplo, para alguma coisa dar certo, em um nível social, não basta ela ser econômica, eficiente, bonita, mas ela também tem que ter uma ampla base de apoio social. A sociedade precisa concordar que uma tecnologia é boa e prioritária para ser desenvolvida. Por isso que o processo de Legitimação tecnológica é o foco do meu estudo e a pergunta básica é: Como que as pessoas legitimaram a energia eólica nos últimos anos?
4. Mas o INPE não faz satélite? Pq vc está estudando discursos lá?
R: Pois é, eu escolhi estudar isso no INPE exatamente pelo ponto de vista. Há uma longuíssima tradição de estudos políticos em outros campos da ciência, mas dentro dos campos que estudam a terra, as mudanças climáticas, o clima no geral isso é novo. E esse é o desafio que quis pra mim: fazer a ponte entre os tradicionais conhecimentos das ciências sociais para as ciências ambientais, para a jovem ciência do sistema terrestre. Falar de algo em diferentes perspectivas é mto difícil, mas avança muito porque ilumina novos lados do problema. Não foi fácil nesse tempo dialogar com físicos, climatologistas, meteorologistas sobre a importância da política, dos discursos, dos sistemas de influências sociais nas políticas públicas. Também não é fácil falar para os cientistas humanos que a natureza nos impõe limites e que cultura e natureza são indissociáveis. Ou seja, apanhei de todos os lados.


5. O que você descobriu no seu trabalho?
R: Muitas coisas. Algumas delas outros cientistas no mundo também descobriram, o que torna as descobertas mais legais pq ai podemos comparar países, estratégias de discursos, prós e contras de legitimação. Mas em essência, descobri que a legitimação da energia eólica evoluiu em meio a disputas discursivas. Muita gente falando bem e mal ao mesmo tempo, sendo que os temas mais comuns são temas técnicos e de mercado. As vezes aparece temas ambientais, mas eu argumento que essa aparição tem mais a ver com uma forma mercadológica de convencimento do que um interesse genuíno em sustentabilidade ou descarbonizar nossa economia. Ah sim, descobri também que nesse jogo de discursos, além dos atores governamentais, think tanks e consultorias também são centrais na propagação e influência da legitimação.
6. E você levou 5 anos para chegar nessas conclusões óbvias?
R: Sim, pesquisar é um trabalho extremamente difícil e extenuante. Mesmo que os resultados apontem para coisas que percebemos no dia a dia, o lance é tornar esse conhecimento comum em conhecimento científico, o que significa tratar os dados dos fenômenos de forma sistemática, com técnicas e ferramentas bem descritas para que, qualquer pessoa no mundo consiga chegara nos mesmos resultados que eu cheguei. E o valor dessa forma de produção de conhecimento (que tem muita crítica também) é que a gente consegue olhar o fenômeno da sustentabilidade de forma mais organizada e, a partir dessa pesquisa, ir além e tentar descobrir novas coisas. Para que tudo isso aconteça, eu precisei me capacitar, estudar, passar por várias provas e avalições no INPE, com outros cientistas, precisei apresentar meus trabalhos em vários lugares (no Brasil e fora), tomei centenas de cacetadas, ajudei a treinar outros futuros cientistas, para aí sim, fazer a minha pesquisa.


7. E o que um doutorado produz de bom para sociedade, além do seu estudo.
R: Depende do seu conceito de produto. Mas conhecimento é um bom produto. Ainda mais um conhecimento que segue um método sistemático e que pode ser verificado. Todos os conhecimentos são válidos e tem seu espaço. Mas eu penso que para construir uma sociedade sustentável ou descarbonizada, o conhecimento científico (mesmo que com suas críticas) é bem importante. Por exemplo, para fazer um satélite funcionar no espaço e transmitir seus memes do seu celular para o celular do seu amigo, centenas de físicos, matemáticos, engenheiros, sociólogos, psicólogos fizeram seus doutorados, publicaram artigos e teses que serviram de base para os construtores do satélite construírem bem essa geringonça e jogá-la lá pro espaço. Décadas de conhecimento científico se materializam em vários produtos do dia a dia. Por isso produzimos aulas, artigos, apresentações, a tese em si, livros, podcasts, vídeos etc.
8. A eólica é boa?
R: Não sei, depende do seu ponto de vista. Sustentabilidade, descarbonização, ou qualquer que seja a orientação “ambiental” envolve saber o que achamos bom para o mundo. Tentei na minha tese não definir um valor a priori, mas sim fazer um diagnóstico dos discursos, do que as pessoas verbalizam que é bom. E no geral o “bom” está capturado por discursos de mercado. Minha opinião, depois de tudo que vi e vivi, eólicas são boas e ruins ao mesmo tempo e em escalas territoriais diferentes. O mundo é sempre ambivalente, infelizmente (ou felizmente).


9) Mas o mercado não é bom?
R: Como ferramenta, talvez. Mas não como objetivo de sociedade. Mas isso seria uma nova tese de doutorado...
10) E as mudanças climáticas, existem mesmo?
R: Sim. E pare de acreditar em fakenews. Infelizmente saber das coisas do mundo é difícil e as vezes triste. Mas desconfie das soluções rápidas, fáceis e explicações “secretas” que só um seleto grupo sabe.
